A Suzano entrou no segundo semestre com sinais mistos. De um lado, entregou um 2T25 robusto em volumes e geração de caixa e elevou a projeção de investimentos para 2025. De outro, o Itaú BBA reiterou recomendação de compra para as ações, mas alertou que faltam catalisadores de curto prazo para destravar valor imediato no setor de celulose, com melhora mais provável a partir de 2026.
Resultados do 2T25 e foco em execução
No trimestre encerrado em junho, a Suzano vendeu 3,7 milhões de toneladas de celulose e papéis, alta de 28 por cento frente ao 2T24, impulsionada pelo primeiro ano de operação da nova fábrica em Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul. A receita líquida somou 13,3 bilhões de reais, crescimento de 16 por cento na comparação anual, com desempenho de papéis nas unidades recém adquiridas nos Estados Unidos e câmbio favorável ajudando a mitigar o efeito de preços internacionais mais baixos da celulose.
O EBITDA ajustado alcançou 6,1 bilhões de reais e a geração de caixa operacional foi de 4,1 bilhões de reais no período. O lucro líquido ficou positivo em 5 bilhões de reais, influenciado pelo efeito contábil da variação cambial sobre a dívida e posições de hedge em moeda estrangeira. Em alavancagem, a relação dívida líquida sobre EBITDA ajustado em dólares encerrou o trimestre em 3,1 vezes. No lado de custos, o custo caixa de produção de celulose, excluindo paradas, foi de 832 reais por tonelada, sinalizando tendência de queda que a companhia projeta acelerar no segundo semestre.
Além dos números, a companhia comunicou elevação da projeção de investimentos para 2025, alinhada ao ciclo de expansão de capacidade e à agenda de competitividade. Em mensagem ao mercado, o presidente Beto Abreu reforçou a disciplina de capital e a busca por ganhos econômicos com a joint venture anunciada com a Kimberly Clark, sem perder de vista a captura de eficiência da nova planta no Centro Oeste.
Como o sell side enxerga a ação
Em relatório de 29 de agosto, o Itaú BBA manteve a recomendação de compra para Suzano e elevou o preço alvo de 63 para 70 reais ao fim de 2026, o que implicaria potencial de valorização de 33 por cento. A equipe do banco projeta que o balanço global de oferta e demanda de celulose deve melhorar em 2026, com preços médios próximos de 580 dólares por tonelada. Ainda assim, o tom é de cautela no muito curto prazo, por falta de gatilhos visíveis que mudem rapidamente a dinâmica de preço.
No modelo do BBA, o EBITDA de 2026 fica próximo à estimativa anterior e cerca de 12 por cento abaixo do consenso, porém com composição diferente. O impacto negativo de um real mais forte seria compensado pela contribuição do EBITDA da joint venture com a Kimberly Clark, prevista para conclusão até meados de 2026. No fluxo de caixa, 2026 tende a ser afetado pelo desembolso de 9,5 bilhões de reais relativo à participação na JV. Sem esse efeito, o yield de fluxo de caixa seria de 13 por cento. Para 2027, a estimativa é de yield de 18 por cento, com geração superior a 2 bilhões de dólares. Em valuation, o banco calcula Suzano a 5,7 vezes EV sobre EBITDA em 2026 e 4,4 vezes em 2027.
O que acompanhar nos próximos trimestres
A combinação de execução operacional, custo caixa em queda e integração de ativos deve continuar guiando o curto prazo da Suzano. Três pontos tendem a estar no radar. Primeiro, a cadência de ramp up e eficiência da planta de Ribas do Rio Pardo, que já demonstrou ganho de competitividade. Segundo, a evolução regulatória e operacional da joint venture com a Kimberly Clark, potencial catalisador de resultados a partir de 2026. Terceiro, sinais do mercado global de celulose em oferta, demanda e preço, variáveis que o sell side vê melhorando no horizonte de 2026, mas sem gatilhos imediatos.
Para investidores e parceiros comerciais, a leitura de curto prazo segue técnica. Enquanto o ciclo de preço não se reequilibra, a tese fica ancorada em ganhos de custo e na disciplina de capital, com alavancagem administrada e pipeline de investimentos sob controle. Já para clientes do ecossistema de papelaria e papel, a estabilidade de fornecimento e a competitividade da cadeia local podem se beneficiar de uma Suzano mais eficiente e mais integrada, especialmente em papéis e soluções derivadas.
A Gazeta da Papelaria seguirá acompanhando resultados, movimentos estratégicos e leituras de mercado sobre o setor de papel e celulose. Tem alguma informação local ou dúvida sobre esses números? Conte para a gente nos comentários e veja também nossas próximas matérias com análises e coberturas de eventos do setor.
Fontes: relatório do Itaú BBA de 29 de agosto de 2025 e balanço 2T25 da Suzano, conforme reportagem do Meon de 21 de agosto de 2025.


















